Aumento de avistamentos de onças no Pantanal sul-mato-grossense chama atenção de moradores e especialistas
Nos últimos meses, moradores e turistas da região de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, têm relatado com mais frequência o avistamento de onças-pintadas em áreas próximas à cidade e às margens do rio Paraguai. A presença desse majestoso felino, símbolo da biodiversidade brasileira e do bioma pantaneiro, costuma ser motivo de encantamento, mas também levanta dúvidas: por que essas aparições estão se tornando mais comuns? Estaria o comportamento desses animais mudando ou seriam os impactos humanos os verdadeiros responsáveis por essa aproximação?
Para entender esse fenômeno, conversamos com especialistas, analisamos dados ambientais e consideramos fatores naturais e humanos que ajudam a explicar esse cenário.
1. A onça-pintada e sua importância para o ecossistema
A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e está no topo da cadeia alimentar. Seu papel como predador é essencial para manter o equilíbrio ecológico, controlando populações de outros animais e contribuindo para a saúde dos ecossistemas.
No Pantanal, seu habitat natural inclui áreas de floresta, campos e margens de rios. Essa região oferece alimento abundante, como capivaras, jacarés e veados, além de ampla cobertura vegetal — fatores ideais para a sobrevivência da espécie.
2. O avanço da urbanização e a perda de habitat
Um dos principais motivos para o aumento dos avistamentos de onças próximas a áreas urbanas de Corumbá é o avanço da urbanização e a consequente redução do habitat natural desses animais. Nos últimos anos, diversas áreas do Pantanal vêm sendo impactadas por:
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Expansão agrícola e pecuária;
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Construção de estradas e empreendimentos turísticos;
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Desmatamento e queimadas recorrentes.
Com a redução de áreas seguras e tranquilas, as onças acabam sendo forçadas a explorar novas regiões — incluindo as bordas da cidade, propriedades rurais e margens de rios movimentados.
3. Queimadas e alterações climáticas no Pantanal
As mudanças climáticas e os eventos extremos, como as grandes queimadas de 2020 e 2023, também deixaram marcas profundas no Pantanal. Em alguns períodos, até 30% da vegetação pantaneira foi queimada, prejudicando a fauna e a flora locais.
Esse cenário leva a uma dispersão forçada dos animais silvestres em busca de abrigo, alimento e água. As onças, sendo animais altamente territoriais, sofrem com essa pressão, e muitas acabam invadindo territórios próximos a zonas urbanas ou áreas rurais já ocupadas.
4. Crescimento do ecoturismo e mais registros
Outro fator importante é o aumento do ecoturismo na região de Corumbá e do interesse por registros de fauna. Com o crescimento do turismo de natureza, principalmente nos barcos-hotéis, trilhas e expedições fotográficas, mais pessoas passam a explorar áreas onde as onças vivem.
Além disso, o uso de drones, câmeras de celular e armadilhas fotográficas contribui para o aumento dos registros — ou seja, as onças podem sempre ter estado por ali, mas agora estão sendo mais vistas, filmadas e fotografadas.
5. Aumento populacional da espécie na região?
Há indícios de que algumas áreas do Pantanal estejam passando por uma recuperação parcial das populações de onça-pintada, graças a esforços de conservação, como os conduzidos pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e outras ONGs que atuam na proteção da fauna pantaneira.
Com menos caça e maior proteção ambiental, algumas populações estão mais estáveis, o que pode levar ao aumento da densidade de indivíduos em determinadas regiões. Quando há muitos felinos em uma área e o espaço se torna disputado, jovens onças acabam migrando para locais mais próximos das zonas habitadas.
6. Alimentação fácil em áreas humanas
Em algumas regiões, o descarte incorreto de lixo, presença de animais domésticos soltos e criações mal protegidas acabam atraindo predadores naturais como a onça. Isso é especialmente comum em áreas rurais e ribeirinhas de Corumbá, onde capivaras, porcos e até cães podem se tornar alvos fáceis para o felino.
Esse acesso mais fácil à comida pode alterar o comportamento da onça, tornando-a menos temerosa em relação à presença humana e incentivando seu retorno a essas áreas.
7. O que fazer ao avistar uma onça-pintada?
Embora seja um momento único, avistar uma onça na natureza exige cuidado e respeito. Confira algumas orientações:
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Mantenha distância e não tente se aproximar ou assustar o animal;
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Não alimente ou tente interagir;
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Evite trilhas e áreas de mata fechada sozinho ou à noite;
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Em áreas rurais, mantenha criações protegidas por cercas;
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Caso o avistamento ocorra em área urbana ou represente risco, acione a Polícia Militar Ambiental (190).
8. Convivência pacífica: é possível e necessária
A presença das onças-pintadas em áreas próximas a Corumbá não deve ser encarada apenas como um risco, mas também como um sinal de alerta e oportunidade de conscientização. O Pantanal ainda é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, e a convivência com seus animais selvagens requer respeito, educação ambiental e políticas públicas eficazes.
💬 “A onça-pintada não é uma ameaça, mas sim um termômetro da saúde do ambiente em que vivemos”, afirmam biólogos.
Conclusão: avistamentos são reflexo do impacto humano e da luta pela sobrevivência
O aumento no número de onças avistadas na região de Corumbá pode ser resultado de uma série de fatores combinados: perda de habitat, queimadas, avanço urbano, aumento do ecoturismo, possível recuperação populacional da espécie ou até mesmo aumento do rio. Mais do que temer esses encontros, é preciso entendê-los como um convite à reflexão sobre nosso papel na conservação do Pantanal.
Proteger a onça-pintada é proteger também os rios, as florestas, os peixes e toda a cadeia de vida que sustenta não só o bioma, mas também a vida humana.
